
No dia 12 de junho de 1967, estreava nos cinemas britânicos Com 007 Só Se Vive Duas Vezes, o quinto filme da franquia James Bond estrelado por Sean Connery. Com roteiro assinado por Roald Dahl e direção de Lewis Gilbert, a produção levou o agente secreto com licença para matar ao coração do Japão, em uma das tramas mais icônicas e fantasiosas da Era Connery.
A trama: tensão global e uma missão no Oriente

Na história, naves espaciais dos Estados Unidos e da União Soviética desaparecem misteriosamente em órbita, acirrando o clima de Guerra Fria entre as superpotências. Para evitar um conflito nuclear iminente, James Bond é enviado ao Japão. Lá, ele forja a própria morte para despistar os inimigos e se infiltrar numa rede de espionagem internacional, que o levará até o esconderijo de seu maior inimigo: Ernst Stavro Blofeld, o chefe da organização SPECTRE.
A famosa frase que dá título ao filme, “You only live twice, once when you are born and once when you look death in the face” foi retirada diretamente do romance original de Ian Fleming.
Sean Connery no Japão: tensões dentro e fora das câmeras
Apesar do visual deslumbrante das locações e da recepção calorosa dos fãs, Sean Connery teve uma experiência turbulenta durante as filmagens no Japão. A presença constante de jornalistas e fotógrafos, inclusive dentro de banheiros públicos, deixou o ator visivelmente incomodado com a falta de privacidade. O assédio da imprensa japonesa foi tão intenso que se tornou um dos fatores determinantes para sua decisão de deixar o papel de 007 após o filme, embora Connery ainda retornasse mais tarde em 007 – Os Diamantes São Eternos e o filme não-oficial da franquia, “Nunca Mais Outra Vez”.

Produção ambiciosa e mudanças criativas
Com um orçamento estimado de US$ 9,5 milhões (uma fortuna para a época), os produtores Albert R. “Cubby” Broccoli e Harry Saltzman tinham a missão de superar os concorrentes de Bond no cinema e na televisão. Inicialmente, Harold Jack Bloom foi contratado para adaptar o romance, mas o roteiro final ficou a cargo de Roald Dahl, amigo pessoal de Fleming.
A direção ficou nas mãos de Lewis Gilbert, que havia conquistado sucesso com o filme “Como Conquistar as Mulheres”. Gilbert trouxe uma abordagem mais épica e visual, que se encaixava perfeitamente com a grandiosidade da nova missão de 007.
Elenco internacional e curiosidades de bastidores
No elenco, o ator japonês Tetsur Tamba interpretou o carismático aliado de Bond, Tiger Tanaka, enquanto a atriz alemã Karin Dor deu vida à vilã Helga Brandt. As atrizes japonesas Akiko Wakabayashi e Mie Hama foram escaladas para os papéis de Aki e Kissy Suzuki, respectivamente, mas inicialmente interpretariam personagens opostas. A troca aconteceu porque Mie Hama teve dificuldades com o idioma inglês, então os papéis foram invertidos para facilitar as gravações.
Para o papel de Blofeld, os produtores inicialmente escalaram o ator tcheco Jan Werich, mas sua aparência não condizia com a imagem ameaçadora que o diretor buscava. Assim, Donald Pleasence assumiu o papel e marcou história com o visual icônico do vilão, incluindo a cicatriz no rosto, o olhar penetrante e a estreia do rosto de Blofeld nos cinemas.

O cenário lendário do vulcão e o gênio de Ken Adam
Um dos maiores destaques do filme é o gigantesco set do esconderijo de Blofeld, construído dentro de um vulcão fictício. A ideia surgiu durante uma viagem ao Japão em busca de locações, quando Broccoli sugeriu que o vilão poderia ter uma base escondida em um dos muitos vulcões avistados de helicóptero.
O lendário designer de produção Ken Adam abraçou a ideia e criou um dos maiores sets já erguidos nos estúdios Pinewood, com 36,5 metros de altura, telhado retrátil, monotrilho funcional e estrutura de aço superior à do Hotel Hilton de Londres. O cenário era tão imenso que foi necessário utilizar todas as luzes disponíveis nos estúdios para filmar as cenas abertas.

Sequências de ação memoráveis e inovação técnica
A icônica cena dos ninjas invadindo o vulcão exigiu acrobacias complexas e equipamentos especiais. Um dos dublês, Vic Armstrong, que mais tarde se tornaria diretor de segunda unidade da franquia, foi o primeiro a testar a descida por cordas, utilizando um tubo de borracha para desacelerar a queda, em uma altura equivalente a 12 andares.
A ação foi registrada pelo premiado diretor de fotografia Freddie Young, vencedor de três Oscars, que enfrentou o desafio de iluminar a gigantesca área do set para cenas noturnas e planos abertos.
Trilha sonora: Nancy Sinatra e John Barry criam um clássico
A trilha sonora de Com 007 Só Se Vive Duas Vezes foi composta por John Barry, que retornava à franquia com um toque mais dramático e cinematográfico. A música-tema, com letra de Leslie Bricusse, foi interpretada por Nancy Sinatra e se tornou uma das mais lembradas da série. A melodia melancólica e misteriosa ajudou a estabelecer o tom mais exótico e introspectivo da aventura japonesa.
Legado: o auge da fantasia na Era Sean Connery
Com 007 Só Se Vive Duas Vezes representou o auge da fantasia e da grandiosidade nos filmes de James Bond da década de 1960. O longa foi um sucesso de bilheteria e consolidou o domínio da franquia nos cinemas globais. Em menos de cinco anos, os produtores Broccoli e Saltzman haviam lançado cinco filmes de Bond com Sean Connery, transformando o personagem em um fenômeno cultural.
O filme não apenas expandiu os horizontes geográficos da franquia, levando Bond ao Japão, como também influenciou diretamente produções futuras, com elementos visuais e narrativos que seriam homenageados e parodiados por décadas.
O estilo visual de Blofeld com sua cicatriz, gato branco no colo e base vulcânica se tornou tão icônico que foi diretamente parodiado no personagem Dr. Evil, interpretado por Mike Myers na série de comédia “Austin Powers”, um reflexo claro da influência duradoura dessa fase da franquia.
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